O comportamento de muitas crianças em espaços coletivos - parques, restaurantes, shoppings, etc - tem me incomodado. Mesmo acompanhadas de seus pais, agem de forma descomprometida com outros grupos, gritam, batem, jogam objetos, de forma que estivessem sozinhas no local. E o pior: os pais não fazem nada para colocá-las no prumo. Agem, igualmente, descompromissados do salutar e bem-vindo respeito com o ambiente público, também habitado por outras pessoas.
Reconheço que o mundo mudou, mas educação vem de casa, do berço familiar, com respeito ao próximo e para uma convivência pacífica. Não é à toa que, na escola, alunos e pais xingam e até agridem fisicamente professores, no maior disparate de desrespeito da atualidade. Não vamos longe. Em casa, os próprios pais e avós são agredidos, respectivamente, por filhos e netos, numa brutal violência e ato de desamor familiar.
Efetivamente, vivemos tempos difíceis, de desemprego, culto às armas, desvalorização dos direitos humanos, aumento da pobreza, enfim, um período sombrio. A mídia tem culpa no cartório, pois muitas produções levadas ao público incentivam práticas depreciativas da sociedade, que, por sua vez, também tem seus pecados. E não me chamem de "careta". Longe de qualquer conservadorismo, só peço um pouco mais de respeito. Aliás, um mínimo de respeito.
Esse dito respeito deve ser ensinado em casa, pela família e os responsáveis. E falo em respeito como estima, consideração, cortesia, deferência, reverência, etc. Não digo para concordarmos com tudo e todos. Na coluna do dia 5 de julho, publicada na Folha de S. Paulo, o advogado e professor Thiago Amparo escreveu sobre "Como dialogar com quem discorda de você?". Ele deu quatro dicas: "crie condições para o diálogo; lugares de fala, se propriamente reconhecidos, fomentam diálogo e não o contrário; não precisamos abdicar de nossos sistemas de valor para entrarmos em consensos; e, fatos importam, e sem eles não temos uma base comum para o diálogo."
De acordo com Amparo, "para conseguirmos dialogar, precisamos acordar a base fática sobre a qual argumentamos." Fui, então, pesquisar sobre base fática. Encontrei o seguinte: "No campo da linguagem, fática é uma função que permite estabelecer a comunicação entre os interlocutores, ao passo que se pode testar o canal de comunicação. Na gramática, a função fática ocupa-se em estabelecer uma espécie de relação ou contrato com o emissor da mensagem, do mesmo modo que este tem a preocupação e procura saber se é devidamente compreendido pelo seu receptor."
Com base nas pesquisas da professora Sherry Turkle, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), Amparo enfatiza "que para dialogar precisamos de três cadeiras: uma para solidão, outra para amizade e a terceira para acomodar a sociedade. Ou seja, dialogar significa, respectivamente, um exercício difícil de autorreflexão, empatia e preocupação com a sociedade como um todo." O advogado e professor destaca que "garantir direitos humanos, a longo prazo, pressupõe construir tais diálogos sobre como conviver em sociedades plurais."
Precisamos dialogar, urgentemente, com os nossos filhos. E, de preferência, em casa. O mundo virtual em que muitos deles vivem é bem diferente do mundo real, no qual a sobrevivência humana depende de inúmeros fatores. Conversar, orientar, explicar, ensinar e até cobrar atitudes corretas e respeito ao próximo são atos que os pais não podem perder de vista. Sobretudo, para não perderem seus filhos para o mundo do vale-tudo.